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Graciela Rodrigues
Professora no IFFar - FW

Plantando a semente da inclusão 

A formação de professores atuantes na educação especial e inclusiva e o desenvolvimento de uma comunicação acessível

 

A base da formação de um cidadão passa pela educação, pois é ela que promove a transformação do meio social para o bem comum. Dessa forma, é difícil pensar no desenvolvimento de uma sociedade inclusiva sem pensar no desenvolvimento de uma cultura educacional inclusiva. Isso “porque, quando falamos de inclusão, as experiências negativas partem da fragilidade e da não existência de profissionais. É lógico que se colocar um estudante com Síndrome de Down numa sala de aula com 30 alunos, e ele não tiver um suporte adequado, certamente a experiência de inclusão vai ser péssima”.

 

É isso que relata a professora doutora Graciela Fagundes Rodrigues, 41 anos. Sua trajetória profissional na educação iniciou no ensino médio. Após se formar no magistério de sua escola, em São Borja, Graciela se viu interessada em estudar a educação especial e, nos anos 2000, ingressou no curso superior de Educação Especial com habilitação em áudio e comunicação. Em seu mestrado, Graciela teve sua linha de pesquisa voltada ao estudo da formação de professores em educação especial com foco no desenvolvimento de estratégias de comunicação acessível. Já no Doutorado, seu estudo foi sobre a inclusão de pessoas com deficiência na educação profissional, associada ao mercado de trabalho.

Assim, Graciela foi se especializando ano após ano em educação acessível e, junto a isso, plantou a semente e iniciou seu primeiro trabalho atuando como educadora na Fundação de Articulação e Desenvolvimento de Políticas Públicas para PcD e PcAH no RS (FADERS). A Fundação desenvolve e promove o acesso de políticas públicas para pessoas com deficiência e altas habilidades. Foi atuando na FADERS que Graciela conseguiu se desenvolver profissionalmente e, em 9 anos de trabalho na instituição, teve contato com alunos e profissionais que estão vivenciando o processo de inclusão.

Porém, foi no Instituto Federal Farroupilha (IFF), campus Panambi, que Graciela criou raízes as quais mantém até os dias atuais. Em 2014 a professora iniciou o trabalho auxiliando os profissionais técnicos e atendendo os estudantes que necessitavam de um apoio particularizado no âmbito inclusivo. O IFF foi o 1° Instituto Federal do Brasil a fazer concurso para professores de Educação Especial, e Graciela fala com apreciação sobre. “Tenho bastante orgulho em dizer que o IFF  se preocupou em pensar nessas pessoas e conseguiu colocar um cargo de docente de educação especial. Isso porque cada vez mais jovens com deficiência estão chegando ao ensino médio e ao ensino superior”, explica Graciela.

O IFF vem desenvolvendo no Estado do Rio Grande do Sul um trabalho importante quando se trata de inclusão. Graciela, além de ter sido docente, entre 2014 e 2021 também fez parte da Coordenação de Ações Inclusivas (CAI), que coordena e gerencia os processos de inclusão, tanto voltado a questões de deficiências, como a de gêneros, diversidade sexual e relações étnico-raciais e indígenas.  “O papel é promover políticas de inclusão em todos os campi do IFF”, explica.

Uma via de mão dupla

 

Até o caminho aqui percorrido, pode-se perceber como é importante a atuação de profissionais capacitados dentro da educação inclusiva. Na verdade, toda área de atuação necessita de pesquisa e incentivo, mas como conseguir capacitar um profissional já durante a graduação? Graciela acredita que a formação inicial da graduação é essencial, mas passa pela formação dos professores já atuantes. “É uma via de mão dupla”, relata. Segundo Graciela, o primeiro passo para alcançar uma melhora na educação, aqui referindo-se à educação especial, é a constante atualização dos professores do ensino superior. "A qualidade de uma especialização parte da qualidade dos docentes”, relata.

Contudo, a via de mão dupla se dá no fato de que a graduação é uma formação inicial e precisa ser constantemente construída. Segundo Graciela, a graduação vai dar sementes e deixar pontos de curiosidade nos alunos, nesse caso, o futuro profissional. A formação, ela te dá pistas, mas nenhuma área do conhecimento se encerra ao final de uma graduação. Estar preparado para trabalhar é uma construção“, explica Graciela.

É esse processo de formação citado por Graciela que o pedagogo Paulo Henrique Cadoná, de 25 anos, está inserido. Tendo  sua formação inicial em Pedagogia, após sua formatura, em 2018, Paulo buscou uma especialização voltada para a área que mais lhe chamou a atenção na universidade: educação inclusiva. “Eu tive a disciplina de educação inclusiva, me chamou atenção na hora. A partir dali eu só pensei em ampliar essa área de alguma forma na minha profissão”, explica o pedagogo.

Buscando aprimorar seus conhecimentos, ele então iniciou a especialização e finalizou uma pós graduação na área de Educação Inclusiva (de forma virtual em meio a pandemia). Além da pós-graduação, Paulo também aprendeu a Língua Brasileira de Sinais (Libras).

Hoje Paulo ainda não atua como pedagogo e trabalha como diagramador em uma empresa de fotografia voltada para formaturas. Contudo, em seu local de trabalho, teve uma experiência onde pôde pôr em prática a inclusão e o que vem estudando. “Eu tive a oportunidade de ter contato com algumas pessoas com deficiência auditiva e surdos. Teve uma aluna de Ciências Contábeis, surda, e eu  fui intérprete na missa de formatura. Isso me marcou bastante”, conta.

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Paulo Cadoná
Pedagogo e intérprete de LIBRAS

Fonte: Pexels

Qual o melhor caminho para se alcançar uma educação inclusiva? 

 

Segundo Graciela, além da formação inicial de profissionais atuantes na educação inclusiva e o desejo do professor de se envolver com seus alunos, também se faz necessário a implementação de políticas públicas de incentivo à formação de profissionais. A professora explica com tristeza a situação da educação inclusiva no Brasil. “Já teve programas de incentivo à formação, mas hoje estamos num processo de desmonte muito grande. A própria Secretaria em nível federal de Educação Especial, não existe mais. É como se fosse uma pastinha no meio de tantas outras”, relata.

 

A Secretaria citada por Graciela foi a antiga Secretaria de Educação Especial (SEESP), que tinha como objetivo desenvolver programas, projetos e ações a fim de implementar no país a Política Nacional de Educação Especial. Dentre as ações desenvolvidas pela SEESP, estava o apoio técnico e financeiro aos sistemas públicos de ensino para a oferta e garantia de atendimento educacional especializado, devendo cumprir com o Decreto nº 6.571/2008. Contudo, a secretaria foi extinta e hoje é uma ramificação da Secretaria dos Direitos Humanos e da Mulher. (MDH)

 

Além de políticas de incentivo, é perceptível outro fator que faz a diferença quando o assunto é educação inclusiva. O recém formado Paulo e a já experiente Graciela entram em sincronia ao falar sobre como é importante a atuação do professor junto ao aluno. “A melhor pessoa que pode dizer qual caminho seguir é a própria pessoa com deficiência. É importante querer estar disposto a conhecer e estudar mais. Não só jogar a responsabilidade para o externo, temos que saber qual é a própria responsabilidade do aluno nesse processo”, afirma Graciela.

 

“Penso que nós estamos aqui para aprender um com o outro. A Educação Inclusiva é fazer sentir-se bem, é fazer sentir-se pertencente. Creio que é nessa direção que devemos caminhar”, finaliza Paulo.

Áudio complementar - comunicação também precisa de acessibilidade

Link para o roteiro de áudio aqui 

Áudio - Comunicação também precisa de acessibilidade
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Leitura do texto - capítulo 3
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